O
Ano da Fé
O
tempo passa, estamos praticamente no meio do ano, nos aproximamos do Ano da Fé,
instituído pelo santo padre e que terá início em outubro.
No
intuito de já nos prepararmos para esse grande evento tão urgente e necessário
diante da realidade tão dura do secularismo, até mesmo do paganismo instalado
em nossa sociedade, gostaria de trazer para nossa meditação e alimento
espiritual um dos mais belos textos de S. Agostinho, um dos maiores convertidos
da história do cristianismo.
Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 10,26.37–29,40; CCL
27,174-176)
(Séc.V)
Em tua imensa misericórdia, toda a minha esperança
Onde te encontrei, Senhor, para te conhecer? Não estavas
certamente em minha
memória antes que eu te conhecesse.
Onde então te encontrei para te conhecer, a não ser em
ti, acima de mim? Não é propriamente um lugar. Afastamo-nos, aproximamo-nos e
não é um lugar. Em toda parte, ó Verdade, presides a todos que vêm com
diferentes consultas.
Com clareza respondes, porém, nem todos ouvem com
clareza. Todos perguntam o que querem e nem sempre ouvem o que querem. Ótimo
servo teu é quem não espera ouvir de ti o que desejaria, mas antes quer aquilo
que de ti ouve.
Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te
amei! Estavas dentro e eu fora te procurava. Precipitava-me eu disforme, sobre
as coisas formosas que fizeste. Estavas comigo, contigo eu não estava. As
criaturas retinham-me longe de ti, aquelas que não existiriam se não estivessem
em ti. Chamaste e gritaste e rompeste a minha surdez.
Cintilaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira.
Exalaste perfume, aspirei-o e anseio por ti. Provei, tenho fome e tenho sede.
Tocaste-me e abrasei-me no desejo de tua paz.
Quando me uno a ti com todo o meu ser, não há em mim dor
nem fadiga. Viva será minha vida, toda repleta de ti. Agora ergues o que de ti
está repleto. Como ainda não estou pleno de ti, sou um peso para mim. Lutam
minhas lamentáveis alegrias com as tristezas deleitáveis. De que lado estará a
vitória, não sei.
Ai de mim, Senhor! tem piedade de mim. Lutam minhas más
tristezas com as boas alegrias e não sei quem vencerá. Ai de mim, Senhor! Tem
piedade de mim! Ai de mim!
Bem vês que não escondo minhas chagas. És o médico; eu, o
doente. És misericordioso; eu, o miserável.
Não é verdade que a vida
humana na terra é uma tentação? Quem deseja pesares e dificuldades?
Ordenas tolerá-los, não amá-los. Ninguém ama aquilo que tolera, mesmo se gosta
de tolerar. Embora alegre-se por tolerar, prefere não ter que tolerá-lo. Na adversidade
desejo a felicidade; na felicidade temo a adversidade. Que meio termo haverá
onde a vida humana não seja uma tentação? Ai da felicidade do mundo, uma e duas
vezes, pelo temor da adversidade e pela caducidade da alegria! Ai das
adversidades do mundo, pelo desejo da felicidade! A adversidade é dura e faz
naufragar a tolerância.
Não é verdade que é
uma tentação a vida humana sobre a terra? Em tua imensa misericórdia
ponho toda a minha esperança.
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