Seja-te a cruz um gozo, mesmo em tempo de
perseguição
Toda ação de Cristo é glória da Igreja
católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz.
Paulo, muito bem instruído, disse:
Longe de mim gloriar-me a não ser na cruz de Cristo.
Foi uma coisa digna de admiração que
ele tenha recuperado a vista àquele cego de nascença
em Siloé. Mas o que é isto em vista dos cegos do mundo inteiro? Foi estupendo e acima das forças da natureza
ressuscitar Lázaro após quatro dias de morto. Mas
a um só foi dada essa graça; e os outros todos, em toda a terra, mortos pelo
pecado?
Foi maravilhoso alimentar com cinco
pães, qual fonte, a cinco mil homens. Mas e aqueles
que em toda a parte sofrem a fome da ignorância? Foi magnífico libertar a mulher ligada há dezoito anos por Satanás; mas que
é isto se considerarmos a todos nós, presos
pelas cadeias de nossos pecados?
Pois bem; a glória da cruz encheu de
luz os que estavam cegos pela ignorância, libertou os cativos do pecado, remiu o universo inteiro.
Não nos envergonhemos da cruz do
Salvador. Muito pelo contrário, dela tiremos glória.
Pois a palavra da cruz é escândalo para
os judeus e loucura para os gentios, para nós, no entanto,
é salvação. Para aqueles que se perdem é loucura; para nós, que fomos salvos, é força de Deus. Não era um simples homem quem por
nós morria; era o Filho de Deus feito homem.
Outrora o cordeiro, morto segundo a
instituição mosaica, afastava para longe o devastador.
Porém, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, não poderá muito mais libertar dos pecados? O sangue de um cordeiro
irracional manifestava a salvação.
Sendo assim, não trará muito maior
salvação o sangue do Unigênito?
O Cordeiro não entregou a vida coagido,
nem foi imolado à força, mas por sua plena vontade.
Ouve o que ele disse: Tenho o poder de entregar minha vida; e tenho o poder de retomá-la. Chegou, portanto, com toda a
liberdade à paixão, alegre com a excelente obra,
jubiloso pela coroa, felicitando-se com a salvação do homem. Não se envergonhou da cruz pois trazia a salvação para o mundo. Não
era um homem qualquer aquele que padecia,
era o Deus encarnado a combater pelo prêmio da obediência.
Por conseguinte, não te seja a cruz um
gozo apenas em tempo de paz. Também em tempo
de perseguição guarda a mesma fidelidade, não aconteça seres tu amigo de Jesus durante a paz e inimigo durante a guerra. Agora
recebes a remissão dos pecados e és enriquecido
com os generosos dons espirituais de teu rei. Rebentando a guerra, luta por ele valorosamente.
Jesus foi crucificado em teu favor, ele
não tinha pecado. Tu, por tua vez, não te deixarás crucificar por aquele que em teu benefício foi
pregado na cruz? Não estarás fazendo nenhum
favor porque primeiro recebeste. Entretanto, mostras tua gratidão pagando a dívida a quem por ti foi crucificado no Gólgota.
Das Catequeses de São Cirilo,
bispo de Jerusalém
***
Do Sermão sobre os pastores, de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 46,18-19: CCL 41,544-546)
(Séc.V)
A Igreja, qual videira, ao crescer estende-se por todos os lados.
Por todo monte, por toda colina e por toda a face da terra se dispersaram (Ez 34,6). Que
significa: Por toda a face da terra se dispersaram? Entregando-se a tudo que é terreno, amam o que brilha na face da terra, preferem isto. Não querem morrer para que sua vida fique escondida em Cristo. Por toda a face da terra, pelo amor às coisas terenas; ou porque há ovelhas desgarradas por toda a face da terra. Estão em diversos lugares; uma só mãe, a soberba, as deu à luz, como uma só, a nossa mãe católica, gerou todos os fiéis cristãos dispersos por todo o mundo.
Não é de admirar se a soberba gera a separação, a caridade, a unidade. Contudo esta mãe católica, este pastor dentro dela procura por toda parte os desgarrados, fortifica os enfermos, cura os doentes, pensa os fraturados; a uns por meio destes, a outros por meio daqueles, sem se conhecerem mutuamente. No entanto ela a todos conhece porque por todos se estende.
Ela se assemelha à videira que, ao crescer, se estende por todos os lados; junto dela há ramos inúteis, cortados pela foice do agricultor por causa de sua esterilidade, de sorte que a videira é podada, não amputada. Estes ramos, onde foram cortados, aí ficaram.
A videira, porém, crescendo por todos os lados, não só conhece os ramos presos a ela, mas ainda os que foram cortados. Todavia aí vai buscar os erradios porque a respeito dos ramos partidos diz o Apóstolo: Deus é poderoso para enxertá-los de novo (Rm 11,23). Quer compares a ovelhas desgarradas do rebanho, quer a ramos cortados da videira, não é menos poderoso Deus para reconduzir as ovelhas do que é para enxertar os ramos, pois é o grande pastor, o agricultor verdadeiro. E por toda a face da terra se dispersaram; e não houve quem as buscasse, quem as reconduzisse; entre os maus pastores, porém, não houve um homem que as procurasse (cf. Ez 34,7).
Por isso ouvi, pastores, a palavra do Senhor: Por minha vida, diz o Senhor Deus (cf. Ez
34,7). Vede por onde começa. Como por um juramento de Deus, um testemunho de sua vida: Por minha vida, diz o Senhor. Os pastores morreram, mas as ovelhas estão em segurança; o Senhor vive. Por minha vida, diz o Senhor Deus. Quais os pastores que morreram? Os que procuravam seu interesse, não ode Jesus Cristo.Haverá então e se poderão encontrar pastores que não busquem o que é seu, mas o que pertence a Jesus Cristo? Sem dúvida alguma, haverá e de certo se encontrarão; não faltam nem faltarão jamais.
***
Estarei no meu posto de sentinela
para ouvir o que me diz o Senhor
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLbDCc22GcAVo4v3AjgFI4MYUzymZAMcv8gHW4OZ132J4T3smutt4u4ZWGr-q0-bIvRYnm8i7uwpLJSM7y10pb7iXwd4EXB16R_w00iVh2JtP4f9d03yXI7jAyhjpINzozgzGI74j-uJQ/s400/JesusCristo100.jpg)
Lemos no Evangelho que, quando o Senhor em sua pregação convidava os discípulos a participarem do mistério de comer o seu corpo também os exortava a comungar de sua paixão,a lguns disseram: É dura esta palavra; e já não mais ficaram com ele. Interrogados os discípulos se também eles queriam ir-se embora, responderam: Senhor, a quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna (Jo 6,68).
Digo-vos, irmãos, que até hoje para alguns é evidente serem as palavras faladas por Jesus espírito e vida e por isso seguem-no. Para outros parecem duras e vão em busca de outra miserável consolação. A Sabedoria as repete bem alto nas praças, na larga e espaços a estrada que leva à morte, para chamar a si os que caminham por ela.
Até mesmo Quarenta anos estive próximo desta geração e disse: Sempre se extraviam pelo coração (Sl 94,10). Encontras também em outro salmo: Uma vez falou Deus (cf. Sl 61,12). Sim, uma vez, porque sempre. É um só e não alterado, mas contínuo e perpétuo seu falar.
Convida os pecadores a novamente entrarem em si, censura pelo erro do coração para que aí habite ele e aí fale, realizando aquilo que ensinou pelo profeta ao dizer: Falai ao coração de Jerusalém (Is 40,2).
Bem vedes, irmãos, como é proveitosa a exortação do Profeta a não endurecermos o coração, se ouvirmos hoje sua voz. Quase as mesmas palavras podeis ler no Evangelho e no Profeta. Ali diz o Senhor: Minhas ovelhas ouvem minha voz (Jo 10,27). E o santo Davi no salmo: Seu povo (do Senhor, sem dúvida) e ovelhas de suas pastagens, hoje se ouvirdes sua voz, não endureçais os vossos corações (Sl 94,7-8).
Escuta, por fim, o profeta Habacuc, como não disfarça a censura do Senhor, mas se entrega a contínua e solícita reflexão sobre ela: Estarei de atalaia, fincarei pé no meu reduto para ver o que me dirá e o que responderei a quem me repreende (Hab 2,1). Também nós, irmãos, suplico,estejamos de atalaia porque o tempo é de luta.
Entremos em nossos corações, onde Cristo habita, comportando-nos com justiça e prudência, de tal forma, porém, que não ponhamos em nós mesmos a confiança nem nos apoiemos em tão frágil proteção.
Dos Sermões de S. Bernardo, abade.
***
O Nome de Jesus é a luz dos pregadores
O Nome de
Jesus é a luz dos pregadores porque ilumina com o seu esplendor os que anunciam
e os que ouvem a sua palavra. Por que razão a luz da fé se difundiu no mundo
inteiro tão rápida e ardentemente senão porque foi pregado este nome? Não foi
também pela luz e suavidade do nome de Jesus que Deus nos chamou para sua luz maravilhosa? (I Pd 2,9). Com razão diz o
apóstolo aos que foram iluminados e nesta luz veem a luz: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos
da luz (Ef 5,8).
Portanto, é necessário
proclamar este nome para que a sua luz não fique oculta, mas resplandeça.
Entretanto, ele não deve ser pregado com o coração impuro ou com a boca
profanada; deve ser guardado e proferido por meio de um vaso escolhido.
Por isso diz o
Senhor referindo-se ao apóstolo: Este
homem é para mim vaso escolhido para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis
a ao povo de Israel (cf. At 9,15). Um vaso
escolhido, diz o Senhor, onde se expõe uma bebida de agradável sabor, para
que o brilho e o esplendor dos vasos preciosos provoquem o desejo de beber: para anunciar-acrescenta-o meu nome.
Com efeito,
para limpar os campos se queimam com o fogo os espinheiros secos e inúteis; aos
primeiros raios do sol nascente as trevas desaparecem, e os ladrões, os noctívagos
e os arrombadores de casas desaparecem. Da mesma forma, quando Paulo pregava
aos povos -semelhante a um forte estrondo de trovão ou à irrupção de um violento
incêndio mais luminoso que o nascer do sol- desaparecia a falta de fé, morria a
falsidade e resplandecia a verdade, à semelhança da cera que se derrete ao
calor de um fogo ardente.
Ele levava o
nome de Jesus a toda parte por meio de suas palavras, cartas, milagres e
exemplos. De fato, continuamente
louvava o nome de Jesus e cantava-lhe hinos de ação de graças
(Eclo 51,15; Ef 5,19-20).
O apóstolo
também apresentava este nome como uma luz aos pagãos, aos reis e ao povo de
Israel, iluminava as nações e proclamava por toda parte: A noite já vai adiantada, o dia vem chegando: despojemo-nos das ações
das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente como em pleno
dia (Rm 13,12-13). E mostrava a todos a lâmpada que arde e ilumina sobre o candelabro,
anunciando em todo lugar a Jesus Cristo
crucificado (1Cor 2,2).
Assim, a
Igreja, esposa de Cristo, sempre apoiada em seu testemunho, alegra-se com o
Profeta, dizendo: Deus, vós me ensinastes
desde a minha juventude, e até hoje canto as vossas maravilhas (Sl 70,17),
isto é, continuamente. Também o mesmo Profeta a isto nos exorta: Cantai a Deus e bendizei seu santo nome! Dia
após dia anunciai sua salvação (Sl 95,2), quer dizer, Jesus, o Salvador.
Dos Sermões de S.
Bernardino de Sena
***
Dos Sermões de Santo Anastácio de Antioquia
(Oratio 4, 1-2: PG 89, 1347-1349) (Séc.VI)
Era necessário que Cristo sofresse para assim entrar em sua glória
Cristo, por suas palavras e ações, revelou que era verdadeiro Deus e Senhor do universo. Ao subir para Jerusalém com seus discípulos, dizia-lhes: Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos gentios, aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei, para ser escarnecido, flagelado e crucificado (Mt 20,18.19). Fazia, na verdade, estas afirmações em perfeita consonância com as predições dos profetas, que haviam anunciado sua morte em Jerusalém.
Desde o princípio, a Sagrada Escritura havia predito a morte de Cristo com os sofrimentos que a precederiam, e também tudo quanto aconteceu com seu corpo depois da morte; predisse igualmente que aquele a quem tudo isto sucedeu é Deus impassível e imortal. De outro modo, nunca poderíamos afirmar que era Deus se, ao contemplarmos a verdade da encarnação, não encontrássemos nela razões para proclamar, com clareza e justiça, uma e outra coisa, ou seja, seu sofrimento e sua impassibilidade. O motivo pelo qual o Verbo de Deus, e portanto impassível, se submeteu à morte é que, de outra maneira, o homem não podia salvar-se. Este motivo somente ele o conhece e aqueles aos quais revelou. De fato, o Verbo conhece tudo o que é do Pai, como o Espírito que esquadrinha tudo, mesmo as profundezas de Deus (1Cor 2,10).
Realmente, era preciso que Cristo sofresse. De modo algum a paixão podia deixar de acontecer. Foi o próprio Senhor quem declarou, quando chamou de insensatos e lentos de coração os que ignoravam ser necessário que Cristo sofresse, para assim entrar em sua glória. Por isso, veio ao encontro do seu povo para salvá-lo, deixando aquela glória que tinha junto do Pai, antes da criação do mundo. Mas a salvação devia consumar-se por meio da morte do autor da nossa vida, como ensina São Paulo: Consumado pelos sofrimentos, ele se tornou o princípio da vida (cf. Hb 2,10).
Deste modo se vê como a glória do Filho unigênito, glória esta que por nossa causa ele havia deixado por breve tempo, foi-lhe restituída por meio da cruz, na carne que tinha assumido. É o que afirma São João, no seu evangelho, ao indicar qual era aquela água de que falava o Salvador: Aquele que crê em mim, rios de água viva jorrarão do seu interior. Falava do Espírito, que deviam receber os que tivessem fé nele; pois ainda não tinha sido dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7,38-39); e chama glória a morte na cruz. Por isso, quando o Senhor orava, antes de ser crucificado, pedia ao Pai que o glorificasse com aquela glória que tinha junto dele, antes da criação do mundo.
***
Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo
Manifestemos uns para com os outros a bondade do Senhor
Considera de onde te vem a existência, a respiração, a inteligência, a sabedoria, e, acima de tudo, o conhecimento de Deus, a esperança do reino dos céus e a contemplação da glória que, no tempo presente, é ainda imperfeita como num espelho e em enigma, mas que um dia haverá de ser mais plena e mais pura. Considera de onde te vem a graça de seres filho de Deus, herdeiro com Cristo e, falando com mais ousadia, de teres também sido elevado à condição divina. De onde e de quem vem tudo isso?
Ou ainda, – se quisermos falar de coisas menos importantes e que podemos ver com os nossos olhos – quem te concedeu a felicidade de contemplar a beleza do céu, o curso do sol, a órbita da lua, a multidão dos astros e aquela harmonia e ordem que se manifestam em tudo isso como uma lira afinada?
Quem te deu as chuvas, as lavouras, os alimentos, as artes, a morada, as leis, a sociedade, a vida tranquila e civilizada, a amizade e a alegria da vida familiar? De onde te vem poderes dispor dos animais, os domésticos para teu serviço e os outros para teu alimento? Quem te constituiu senhor e rei de todas as coisas que há na face da terra? E, porque não é possível enumerar uma a uma todas as coisas, pergunto finalmente: quem deu ao homem tudo aquilo que o torna superior a todos os outros seres vivos?
Porventura não foi Deus? Pois bem, agora, o que ele te pede em compensação por tudo, e acima de tudo, não é o teu amor para com ele e para com o próximo? Sendo tantos e tão grandes os dons que recebemos ou esperamos dele, não nos envergonharemos de não lhe oferecer nem mesmo esta única retribuição que pede, isto é, o amor? E se ele, embora sendo Deus e Senhor, não se envergonha de ser chamado nosso Pai, poderíamos nós fechar o coração aos nossos irmãos?
De modo algum, meus irmãos e amigos, de modo algum sejamos maus administradores dos
bens que nos foram concedidos pela graça divina, a fim de não ouvirmos a repreensão de Pedro: “Envergonhai-vos, vós que vos apoderais do que não é vosso; imitai a justiça de Deus e assim ninguém será pobre”.
Não nos preocupemos em acumular e conservar riquezas, enquanto outros padecem
necessidade, para não merecermos aquelas duras e ameaçadoras palavras do profeta Amós: Tomai cuidado, vós que andais dizendo: “Quando passará o mês para vendermos; e o sábado, para abrirmos nossos celeiros?” (cf. Am 8,5).
Imitemos aquela excelsa e primeira lei de Deus, que faz chover sobre os justos e os pecadores e faz o sol igualmente levantar-se para todos; que oferece aos animais que vivem na terra a extensão dos campos, as fontes, os rios e as florestas; que dá às aves a amplidão dos céus, e aos animais aquáticos, a vastidão das águas; que proporciona a todos, liberalmente, os meios necessários para a sua subsistência, sem restrições, sem condições, sem fronteiras; que põe tudo em comum, à disposição de todos eles, com abundância e generosidade, de modo que nada falte a ninguém. Assim procede Deus para com as suas criaturas, a fim de conceder a cada um os bens de que necessita segundo a sua natureza e dignidade, e manifestar a todos a riqueza da sua bondade.
***
Do Livro do Eclesiástico 11,12-30
Confiar somente em Deus
12Há homens fracos que precisam de ajuda,
carentes de bens e ricos de miséria,
13mas o Senhor os observa com benevolência
e os reergue de sua humilhação.
Ele levanta a sua cabeça
e muitos se admiram disso.
14Bem e mal, vida e morte,
pobreza e riqueza, tudo vem do Senhor.
15A sabedoria, a ciência
e o conhecimento da lei vêm do Senhor;
vêm dele a caridade e a prática das boas obras.
16O ero e as trevas são criados para os pecadores;
os que se comprazem no mal, no mal envelhecem.
17O dom de Deus permanece com os justos
e a sua benevolência terá sempre sucesso.
18Há quem se enriquece por avareza,
mas esta será a recompensa
19daquele que disser: “Agora poso descansar,
agora vou comer dos meus bens”;
20não sabe quando virá aquele dia,
em que a morte se aproximar,
e deixará tudo a outros, e morrerá.
21Permanece firme na tua tarefa, ocupa-te bem dela
e envelhece na tua profissão.
22Não admires a conduta dos pecadores,
mas confia em Deus e permanece no teu trabalho.
23Pois é fácil aos olhos de Deus
enriquecer um pobre, num instante.
24A bênção de Deus é a recompensa do justo,
num instante faz aparecer o seu sucesso.
25Não digas: “De que coisa tenho necessidade?
De agora em diante que é que ainda me falta?”
26Não digas: “Tenho de tudo o bastante,
de agora em diante que desgraça me poderá atingir?”
27No dia feliz não te esqueças dos males,
e no dia infeliz não te esqueças do bem;
28pois é fácil para Deus, no dia da morte,
retribuir a cada um segundo os seus atos.
29O tempo de desventura faz esquecer as delícias,
e é na sua última hora
que as obras de um homem são reveladas.
30Antes da morte não louves homem algum,
pois no seu fim é que se conhece o homem.
***
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5U6RMaHxjHjMx2XS36nY86HSQSUDJ544bb3XPmuhptpZPqQkExIEDL4BDrTf78Bvc1gnRx2Okaui3gdrJv2wUewNtFKHUoW9M2ju_EjJd1RoMwymrSEE5qbRjX6zKxmHovNp4m220qUI/s640/sacros+%252810%2529.jpg)
"Bom Pastor" - Rodolfo Cristiano
Do livro “Imitação de Cristo”
(Lib. 2, cap. 2-3)
(Séc. XV)
A humildade e a paz
Não te preocupes muito em saber quem é por ti ou contra ti; mas deseja e procura que Deus te ajude em tudo que fizeres.
Tem boa consciência e Deus será tua boa defesa.
A quem Deus quiser ajudar, nenhum mal poderá prejudicar.
Se souberes calar e sofrer, verás certamente o auxílio do Senhor.
Ele sabe o tempo e o modo de te libertar; portanto, entrega-te a ele inteiramente.
A Deus pertence aliviar-nos e tirar-nos de toda confusão.
Às vezes é muito útil, para guardar maior humildade, que os outros conheçam e repreendam nossos defeitos.
Quando o homem, por causa de seus defeitos, se humilha, então facilmente acalma os outros, e desarma os que estão irados contra ele.
O humilde, Deus protege e livra; ao humilde ama e consola. Ao homem humilde se inclina; ao humilde dá-lhe abundantes graças, e depois de seu abaixamento eleva-o a grande honra.
Ao humilde, revela seus segredos, e com doçura o atrai a si e convida.
O humilde, depois de receber uma afronta, conserva sua paz: porque confia em Deus e não no mundo.
Não julgues que fizeste algum progresso se não te consideras inferior a todos.
Primeiro conserva-te em paz; depois poderás pacificar os outros.
O homem pacífico é mais útil do que o letrado.
O homem dominado pelas paixões, até o bem converte em mal e acredita facilmente no mal.
O homem bom e pacífico tudo converte em bem.
Quem está em boa paz não suspeita mal de ninguém. Mas quem é descontente e inquieto, com diversas suspeitas se atormenta: não tem sossego nem deixa os outros sossegar.
Diz muitas vezes o que não devia; e deixa de fazer o que mais lhe conviria.
Preocupa-se com as obrigações alheias e descuida-se das próprias.
Zela, portanto, primeiro por ti mesmo, e depois poderás zelar devidamente por teu próximo.
Bem sabes desculpar e disfarçar tuas faltas, mas não queres aceitar as desculpas dos outros.
Seria mais justo acusares a ti e desculpares teu irmão.
Se queres que te suportem, suporta também os outros.
***
Devemos conhecer a maravilhosa caridade da ciência de Cristo
A mim me parece que o grande desejo de Nosso Senhor, de que se tribute honra especial a seu Sagrado Coração, tem por finalidade renovar em nós os frutos da redenção. Pois o Sagrado Coração é fonte inexaurível, que somente quer difundir-se pelos corações humildes, a fim de que estejam livres e prontos a viver sua vida em conformidade com seu beneplácito.
Deste divino Coração correm sem parar três rios: o primeiro é de misericórdia pelos pecadores, derramando neles o espírito de contrição e de penitência. O segundo é de caridade, para o auxílio de todos os sofredores, em particular dos que aspiram a perfeição, para que encontrem os meios de superar as dificuldades. Do terceiro, enfim, manam o amor e luz para os seus amigos perfeitos, que Ele deseja unir à sua ciência e à participação de seus preceitos, para que, cada um a seu modo, se dedique totalmente a expansão de sua glória.
Este Coração Divino é oceano de todos os bens. Nele precisam os pobres mergulhar em todas as suas necessidades. É oceano de alegria, onde temos de mergulhar todas as nossas tristezas. É abismo de humildade contra nossa loucura, abismo de misericórdia para os miseráveis, abismo de amor para as nossas indigências.
Tendes, por isso, de unir-vos ao Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, no princípio da vida nova, para vos preparardes bem; no fim, para vos consumardes. Vossa oração é vazia? Então, basta que ofereçais a Deus as preces que o Salvador eleva por nós no Sacramento do Altar, entregando seu fervor em reparação de vossa tibieza. Sempre que ides fazer algo, rezai assim: “Meu Deus, faço ou suporto isto no Coração de seu Filho e, conforme a seus santos desígnios, ofereço-te em reparação de tudo quanto há de falho ou de imperfeito em minhas obras”. E deste modo, em todas as circunstâncias. E em tudo que vos acontecer de penoso, aflitivo ou injurioso, dizei a vós mesmos: “Recebe o que o Sagrado Coração de Jesus Cristo te envia a fim de te unir-te a Ele”.
Acima de tudo, porém, guardai a paz do coração que supera todos os tesouros. Pra guardá-la, nada de melhor que renunciar a própria vontade e colocar a vontade do Divino Coração em lugar da nossa, de modo que ela realize em nosso nome o que redunda em sua glória. E nós, felizes, nos submetemos a Ele, com absoluta confiança.
(Das Cartas de Santa Margarida Alacoque, virgem)
Nenhum comentário:
Postar um comentário