quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Começando o ano com Maria Santíssima



Começamos um novo ano e a Sagrada Liturgia da Igreja da qual emanam todas as graças aos seus membros nos convida à santificação - a ação litúrgica é que permite o mais alto grau de encontro entre a vida do fiel e a plenitude do mistério - e orienta no primeiro dia do ano na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus a reconhecermos a maternidade Divina da Virgem Maria e a ela nos confiarmos para que todo este ano seja repleto de fé, esperança e experiências com o Santo Amor de Deus.

Estamos iniciando o ano ainda em clima de Natal e contemplamos “a Virgem, José e o Menino deitado á manjedoura... Maria guardava tudo e meditava em seu coração “(cf. Lc 2, 16.19). Neste clima de família, Nossa Senhora, aquela que participou de forma única do Plano de Redenção do Pai, começado por obra do Espírito Santo com a Encarnação do Filho em seu ventre imaculado, nos ensina como deve ser o nosso testemunho de vivência cristã e de filiação, ou seja, ter o coração voltado para as coisas de Deus na meditação e contemplação, isso é possível mesmo em meio as provações do cotidiano, desde que a nossa vida seja nutrida pela Palavra de Deus e pela vivência dos Sacramentos. Convidamos os Servos de Jesus Crucificado e seus amigos a fazer a experiência neste ano que inicia de uma freqüente escuta da Palavra de Deus, por exemplo: antes de sair de casa para suas atividades uma breve leitura orante da Sagrada Escritura, isso nos ajudará a iluminar nossos atos e decisões, tornando-nos, a exemplo de Maria Santíssima, portadores da Palavra e instrumentos do Amor de Deus.

Sendo assim poderemos também viver concretamente o outro grande marco do mês de janeiro ainda dentro do clima de Natal: no dia 03 a Solenidade da Epifania do Senhor que dá um realce particular a esse revelar-se de Deus na história. A eternidade entrou no tempo através do mistério da Encarnação, por isso em Jesus Cristo, Verbo Encarnado, o tempo passa a ser uma dimensão de Deus, de modo que todos os dias e todos os momentos são abarcados pela sua Encarnação e Ressurreição e se encontram na “plenitude do tempo”. (“Quando, porém chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial.“ Gl 4,4-5).

Encerrando o tempo de Natal, no próximo dia 10 teremos a festa do Batismo do Senhor, no qual Ele inaugura sua vida pública anunciando o Reino de Deus, ”a fim de abrir os olhos dos cegos, a fim de soltar do cárcere os presos, e da prisão os que habitam nas trevas” (I s 42, 7). 

A vivência concreta do cristão proporciona a cada dia certa divinização iniciada pela imersão do nosso Batismo e que se prolonga no desenrolar cronológico da vida, realizando-se progressivamente à medida que a experiência do mistério se torna expressão da vida, assim o nosso testemunho será como o dos Reis Magos que, ”ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mt 2,11).

Ó boa mãe, obrigado por nos tomar pela mão já no inicio da caminhada neste ano e nos mostrar os caminhos da salvação: o seu Filho e nosso Deus, que se revelou na história e continua se revelando na sua Palavra.

Rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Nascimento de Cristo, eis o esperado das nações...

          A festividade do Natal fascina, tanto hoje como outrora, mais do que as outras grandes festas da Igreja; fascina porque todos, de certo modo, intuem que o nascimento de Jesus tem a ver com as aspirações e as esperanças mais profundas do homem. O consumismo pode distrair desta saudade interior, mas se no coração existe o desejo de receber aquele Menino que traz a novidade de Deus, que veio para nos oferecer a vida em plenitude, as luzes dos adornos natalícios podem tornar-se sobretudo um reflexo da Luz que se acendeu mediante a Encarnação de Deus.
          Nas celebrações litúrgicas destes dias santos vivemos de maneira misteriosa mas real a entrada do Filho de Deus no mundo e fomos iluminados mais uma vez pela luz do seu fulgor. Cada celebração é presença atual do mistério de Cristo e, nela, prolonga-se a história da salvação. A propósito do Natal, o Papa são Leão Magno afirma: «Embora a sucessão das obras corpóreas agora tenha passado, como foi ordenado antecipadamente no desígnio eterno..., todavia nós adoramos continuamente o mesmo parto da Virgem que produz a nossa salvação» (Sermão sobre o Natal do Senhor, 29, 2), e esclarece: «Porque aquele dia não passou, de tal modo que tenha passado também o poder da obra que então foi revelada» (Sermão sobre a Epifania, 36, 1). Celebrar os acontecimentos da Encarnação do Filho de Deus não é uma simples recordação de eventos do passado, mas significa tornar presentes aqueles mistérios portadores de salvação. Na Liturgia, na celebração dos Sacramentos, aqueles mistérios fazem-se atuais e tornam-se eficazes para nós, hoje. São Leão Magno afirma novamente: «Tudo aquilo que o Filho de Deus fez e ensinou para reconciliar o mundo, não o conhecemos somente através da narração de obras levadas a cabo no passado, mas vivemos sob o efeito do dinamismo de tais obras presentes» (Sermão 52, 1).
          Na Constituição sobre a sagrada liturgia, o Concílio Vaticano II ressalta o modo como a obra da salvação realizada por Cristo continua na Igreja, mediante a celebração dos santos mistérios, graças à ação do Espírito Santo. Já no Antigo Testamento, no caminho rumo à plenitude da fé, temos testemunhos do modo como a presença e a ação de Deus é interposta através dos sinais, por exemplo o sinal do fogo (cf. Êx 3, 2 ss.; 19, 18). Mas a partir da Encarnação realiza-se algo surpreendente: o regime de contacto salvífico com Deus transforma-se radicalmente e a carne torna-se o instrumento da salvação: «Verbum caro factum est», «o Verbo fez-se carne», escreve o evangelista João, enquanto um autor cristão do século III, Tertuliano, afirma: «Caro salutis est cardo», «a carne é o fulcro da salvação» (De carnis resurrectione, 8, 3: PL 2, 806).
          O Natal é já o primeiro fruto do «sacramentum-mysterium paschale», ou seja, o princípio do mistério central da salvação que culmina na paixão, morte e ressurreição, porque Jesus dá início à oferenda de si mesmo por amor, desde o primeiro instante da sua existência humana, no seio da Virgem Maria. Por conseguinte, a noite de Natal está profundamente vinculada à grande vigília da noite da Páscoa, quando a redenção se realiza no sacrifício glorioso do Senhor morto e ressuscitado. O próprio presépio, como imagem da Encarnação do Verbo, à luz da narração evangélica, já alude à Páscoa, e é interessante ver como em alguns ícones da Natividade, na tradição oriental, o Menino Jesus é representado envolto em faixas e colocado numa manjedoura que tem a forma de um sepulcro; uma alusão ao momento em que Ele será deposto da cruz, envolvido num lençol e depositado num sepulcro escavado na rocha (cf. Lc 2, 7; e 23, 53). Encarnação e Páscoa não se encontram uma ao lado da outra, mas constituem os dois pontos-chave inseparáveis da única fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus Encarnado e Redentor. Cruz e Ressurreição pressupõem a Encarnação. Só porque verdadeiramente o Filho, e nele o próprio Deus, «desceu» e «se fez carne», a morte e a ressurreição de Jesus constituem acontecimentos que nos são contemporâneos e nos dizem respeito, nos arrebatam da morte e nos abrem para um futuro em que esta «carne», a existência terrena e transitória, entrará na eternidade de Deus. Nesta perspectiva unitária do Mistério de Cristo, a visita ao presépio orienta para a visita à Eucaristia, onde está presente de modo real o Cristo crucificado e ressuscitado, o Cristo vivo.
          Então, a celebração litúrgica do Natal não representa apenas uma recordação, mas é sobretudo um mistério; não é só memória, mas também presença. Para captar o sentido destes dois aspectos inseparáveis, é necessário viver intensamente todo o Tempo natalício como a Igreja o apresenta. (...) Com efeito, a data de 25 de Dezembro, única à idéia da manifestação solar — Deus que aparece como luz sem ocaso, no horizonte da história — recorda-nos que não se trata unicamente de uma idéia, aquela segundo a qual Deus é a plenitude da luz, mas de uma realidade para nós homens já realizada e sempre atual: tanto hoje como outrora, Deus revela-se na carne, ou seja, no «corpo vivo» da Igreja peregrina no tempo, e nos Sacramentos concede-nos hoje a salvação.
          (...) É necessário resgatar este Tempo natalício de um revestimento demasiado moralista e sentimental. A celebração do Natal não nos propõe apenas alguns exemplos a imitar, como a humildade e a pobreza do Senhor, a sua benevolência e o seu amor pelos homens; mas é sobretudo um convite a deixar-se transformar totalmente por Aquele que entrou na nossa carne. São Leão Magno exclama: «O Filho de Deus... uniu-se a nós e vinculou-nos a si de tal modo que a humilhação de Deus até à condição humana se tornasse uma elevação do homem até às alturas de Deus» (Sermão sobre o Natal do Senhor, 27, 2). A manifestação de Deus tem como finalidade a nossa participação na vida divina, na realização em nós mesmos do mistério da sua Encarnação. Tal mistério constitui o cumprimento da vocação do homem. São Leão Magno explica-nos novamente a importância concreta e sempre atual do mistério do Natal para a vida cristã: «As palavras do Evangelho e dos Profetas... inflamam o nosso espírito e ensinam-nos a compreender a Natividade do Senhor, este mistério do Verbo que se fez carne, não tanto como uma recordação de um acontecimento passado, mas sobretudo como um fato que se realiza sob os nossos olhos... é como se, na solenidade hodierna, ainda se proclamasse: “Anuncio-vos uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje, na cidade de David, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo Senhor”» (Sermão sobre o Natal do Senhor, 29, 1). E acrescenta: «Reconhece, cristão, a tua dignidade e, tendo-te tornado partícipe da natureza divina, presta atenção a não recair, com uma conduta indigna, de tal grandeza na baixeza primitiva» (Sermão 1 sobre o Natal do Senhor, 3).
          Estimados amigos, vivamos este Tempo natalício com intensidade: depois de termos adorado o Filho de Deus que se fez homem e foi colocado numa manjedoura, agora somos chamados a passar ao altar do Sacrifício, onde Cristo, o Pão que desceu do céu, se nos oferece como verdadeiro alimento para a vida eterna. E aquilo que nós vimos com os nossos olhos, na mesa da Palavra e do Pão de Vida, o que contemplamos, aquilo que as nossas mãos tocaram, ou seja o Verbo que se fez carne, anunciemo-lo com alegria ao mundo e testemunhemo-lo generosamente com toda a nossa vida. Renovo de coração a todos vós e aos vossos entes queridos os sinceros bons votos para o Novo Ano.


Quarta feira, 05 de janeiro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

E depois do fogo, o murmúrio de uma brisa suave...

“Tudo que é definitivo nasce e amadurece no seio do silêncio: a vida, a morte, o além, a graça, o pecado. O palpitante sempre está latente.”
(Inácio Larrañaga)
        
         Há quem se incomode e se desconcerte com uma palavra simples, singela, límpida, que a princípio não traz nenhuma objeção, apesar de ser direta e possuir grande significado: Silêncio!
          Atualmente, chega até ser desafiante tratar desse assunto. Vivemos numa época onde não se cultiva mais a calmaria, o sossego, a tranqüilidade..., embora se encontre muitos que preservam esses valores, como por exemplo, aqueles que não trocam a serenidade do espaço rural pelo movimento urbano. Aqueles que sabem ponderar o tempo entre uma boa música e uma boa leitura. Mas nos dias de hoje, não é a maioria.
          E quando o assunto é Oração? Podemos perceber que silêncio e oração são duas palavras dependentemente ligadas.
          Trazendo para nós católicos, é triste afirmar que nem todos buscam no recolhimento, uma vida íntima com Cristo. Esquivamo-nos deste bem, deixando de experimentar as “maravilhas de Deus” através de puros afetos, onde elevamos a nossa alma até Ele. Mas como progredir na oração, se me perco todas às vezes que silencio? É claro que  sem o auxílio do Espírito Santo, jamais poderíamos dar passos, mas estes dependerão muito de nossos freqüentes esforços. Vale lembrar que o auxílio de um diretor espiritual é indispensável. Outro ponto marcante que nos deixa estacionados, são as distrações voluntárias e involuntárias. Essas exigem de nós, para que não nos prendamos em suas redes, princípios de mortificação. Para quem quer buscar uma vida de oração, não pode se entregar a pensamentos vãos, desnecessários, e se mesmo assim eles vierem, devem ser combatidos o mais rápido possível. “Eleva o pensamento, ao céu sobe. Por nada te angusties, nada te perturbe.” (Santa Teresa de Jesus).
          Há momentos únicos em nossa vida que não podem ser descartados. O profeta Elias encontrou a Deus numa leve brisa, depois de passar um furacão, um terremoto e ainda, chamas de fogo. Tantas são as situações que nos preocupam, impedindo-nos de adentrar em nós mesmos. Quanto mais essas situações nos inquietam, mais perto estamos de perder o controle e a paz.
         Vemos na Virgem Maria alguém que caminhou em terra firme. Ao contemplarmos sua vida escondida, podemos perceber em seu silêncio fecundo a serenidade que suas virtudes emanam em nossa vida: receptividade, plenitude, profundidade, simplicidade... Durante sua vida, soube silenciar mediante as situações, inclusive de dor e sofrimento.
         O que não pode faltar em nós é a alegria de recomeçar. Ir ao encontro de Deus! Momentos de reflexão, meditação, auto-exames, boas leituras, são essências para que busquemos tenazmente um ímpeto maior, que nos leve ao encontro Daquele que está dentro de nós.

Quer uma sugestão sobre oração? Há livros muito qualificados que podem te ajudar, sugiro aqui:
- Caminho de perfeição (Santa Teresa de Jesus)
- O silêncio de Maria (Inácio Larrañaga)


Ir. Leonardo do Coração de Jesus, FPSS