quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Um pequeno grande amigo de S. Francisco

Carlo Acutis, um novo Francisco de Fátima

"CARLO ACUTIS nasceu em Londres, aos 03 de maio de 1991, filho de Andrea e Antonia. De fato, desde pequeno o seu coração demonstrou alegria, determinação e humildade em sua caminhada rumo à “santa viagem”, vivendo na normalidade as suas atividades diárias, como a escola, os amigos, o amor pelo Criador e, sobretudo, a fé na extraordinariedade do Evangelho. Cresceu em uma família profundamente cristã; escolheu livremente dizer o “sim” com a própria vida, ao mistério que o envolvia; assim, a fé crescia com ele”.

Missas diárias: "Eucaristia é o meu caminho para o céu".

Após receber o sacramento da Primeira Comunhão, CARLO nunca faltou ao compromisso quotidiano com Cristo, presente na Eucaristia e adorado no sacrário; afirmava com entusiasmo a todos os jovens que Jesus era o seu “grande amor”.

Esta profunda intimidade com o sacrifício vivo do Corpo e Sangue de Cristo lhe fazia repetir frequentemente: “a Eucaristia é o meu caminho para o céu!”, compreendendo claramente que “o banquete eucarístico é para nós real antecipação do banquete final, pré-anunciado pelos profetas (cf. Is. 25,6-9) e descrito no Novo Testamento como as ‘núpcias do Cordeiro’ (Ap. 19, 7-9) a celebrar-se na alegria da comunhão dos santos” (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n° 31).


Especialista em informática:

Pode-se dizer que no campo da informática não havia segredos para ele, talento verdadeiramente inato, porque, apesar da sua pouca idade, foi capaz de competir com especialistas do campo, para o espanto de todos; porém, a coisa mais bela, é que não tinha somente para si esta inclinação particular, pois ficava feliz ao utilizá-la como voluntário na ajuda ao próximo.

Verdadeiro discípulo:

Um verdadeiro discípulo de Jesus, que, com a inteligência e o coração, soube revolucionar a sua vida e a vida de quem o rodeava, não perdendo jamais as ocasiões para falar de Cristo, amá-Lo, partilhar a Palavra e citar o Magistério da Igreja que conhecia, apesar da sua “pequenez”, para ganhar almas para Cristo: “embora sendo livre de todos, me fiz servo de todos para ganhar o maior número. Fiz-me fraco com os fracos para ganhar os fracos, me fiz tudo para todos, para salvar a qualquer custo cada um. Tudo eu faço pelo Evangelho, para tornar-me um participante com eles” (cf.1 Cor. 9, 19-23). “O teu dia, meu Deus, virá diante de Ti... e com meu sonho mais louco: ter o mundo entre meus braços” (J. Leclercq), e tudo isso também a custo de rejeição ou escárnio por causa da sua fé viva.


Fecundo apostolado:

CARLO era impulsionado por um único e constante desejo, o de conquistar quanto mais almas possíveis, não recorrendo a recursos mesquinhos, mas, com o testemunho constante e quotidiano da sua fé vivida sem ostentação, simplesmente com coerência e desarmamento.

Por isso que muitos daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo pediram o batismo na Igreja Católica. Havia nele a viva convicção que “todos nascem como originais, mas muitos morrem como cópias”.

 Isso o levou a viver com originalidade os seus dias, não desperdiçando, nunca, a cada instante, os dons de Deus, porque a graça eleva a natureza, não a destrói; logo, tudo o que era natural em CARLO, era posto a serviço e por isso a graça o elevou: é tudo luz!

Fuga do pecado para poder subir ao céu

A clareza da fé em CARLO o levou a afirmar: “um balão, para subir bem alto, necessita despojar-se de tudo aquilo que pesa; pois assim faz a alma, para elevar-se ao céu, necessitando tirar pequenos pesos que são os pecados veniais. Se por acaso existe um pecado mortal, a alma cai sobre a terra e a confissão será como fogo,   o mesmo fogo que faz retornar ao céu o balão. É preciso confessar-se frequentemente porque a alma é muito complexa”.

Todo de Maria: " a unica mulher da minha vida"


Faz-se necessário indicar outro aspecto fundamental do itinerário terreno e espiritual de CARLO ACUTIS: O seu amor pela Virgem Maria que ele mesmo definia como “a única mulher da minha vida”. Um amor genuíno, vivo, concreto na fidelidade quotidiana ao recitar o santo Rosário, definido por ele como o “compromisso mais cerimonioso da jornada”, na sua devoção aos primeiros sábados do mês.
A Ela consagrou várias vezes toda a sua vida, principalmente nas visitas que fez aos Santuários de Lourdes e de Fátima.

Suas penitências pelas almas do purgatório

A história da “visão do inferno”, como descreveu irmã Lúcia de Fátima, o perturbou sobremaneira; por causa disso, CARLO decidiu trabalhar pela salvação das almas. Contribuiu também, para tal efeito, a leitura do “Tratado do Purgatório”,  de Santa Catarina Fieschi, de Gênova (1447-1510), onde são descritas as penas das almas do Purgatório, em sufrágio das quais oferecia orações, penitências e comunhões.

                                  Para aqueles que não possuíssem o dom da fé e, através dela, a certeza da verdade que emana de Deus, CARLO se esforçava para que muitos pudessem levantar os olhos e ver a fé como um farol de luz que conduz à salvação.
                                      Cuidava de sua pureza e defendia a sacralidade da família:
Cada momento da sua vida, na família, na escola, nas relações com os outros, se tornava ocasião de testemunho natural da sua fé.
Preocupava-se muito com sua pureza e por isso confiava-se à Virgem Maria e às orações das monjas enclausuradas que frequenta.
Nos debates aos quais comparecia, CARLO era um defensor apaixonado da sacralidade da família contra o divórcio, bem como da vida contra o aborto e a eutanásia.

Exemplo aos jovens:

Aos jovens, CARLO se apresentava em sua totalidade: um adolescente do nosso tempo; testemunha que entregar-se a Cristo é viver uma vida “maior”, uma vida que não fecha as portas da liberdade e da alegria, porque “Ele não nos tira nada, mas doa tudo. Quem se doa à Ele, recebe o cêntuplo”(Bento XVI).

O perfil de CARLO era semelhante ao de Maria Magdalena. A sua juventude era “óleo perfumado de nardo puro, preciosíssimo”, que queria espalhar sobre os pés de Jesus (cf. Jo 12, 3); os seus dias, embora breves, foram como uma sequência até o calvário (cf. Jo 19, 25), sem descontos ou meias medidas.

Sua morte

No início de outubro de 2006, foi atingido por uma gravíssima leucemia, incurável. Também neste momento o amor vence o medo e, no hospital, disse: “ofereço todo o sofrimento, de que deverei padecer, ao Senhor, pelo Papa e pela Igreja, para não passar pelo purgatório e ir direto ao Paraíso”.

                                 Recebe a Unção dos Enfermos e a “medicina” da Eucaristia, a sua “rodovia para o céu”. O médico pessoal fica maravilhado e edificado com seu modo de viver e suportar as dores atrozes: sorri a todos e mantém a sua gentileza, unida à uma grande paciência
Quando o doutor que o acompanhava perguntou se sofria muito, CARLO respondeu com coragem: “existem pessoas que sofrem muito mais do que eu!”
O teólogo Karl Rahner afirma que: “para cada um, o tempo de vida que lhe é concedido, é o breve instante no qual se torna aquilo que deve ser”. Aqui se encontra todo o mistério deste jovem fiel, da Igreja Diocesana de Milão, que se reflete nos seus olhos carregados de sabedoria e de luz, quase antecipação dos eleitos na Jerusalém Celeste, Páscoa sem fim.
Às 6:45 horas de 12 de outubro de 2006, CARLO ACUTIS retorna à Casa do Pai “para sempre”, na ponta dos pés, sem rumor algum, como a lógica evangélica da semente, para cantar na eternidade o canto dos pequenos benditos de Deus e fazer de si o “hortus conclusus”[2], o Jardim do Éden onde o Senhor possa livremente “passear sobre a brisa do dia” (cf. Gen. 3, 8), o seu dia."
Carlo Acutis tinha particular admiração pela vida de S. Francisco e de Santa Clara, por isso gostava de ir muito a Assis, onde sua família tem casas. Em Milão, era conhecido por ajudar os pobres, os excluídos, os velhos e, sobretudo os migrantes que sofriam, em sua terra, tantos preconceitos. Em Assis saía às ruas, à noite, para levar comida aos pobres e sempre lhes deixava, no bolso, algum dinheiro.
Após sua morte, tendo seus órgãos retirados para doação, foi enterrado no cemitério de Assis, segundo o seu desejo.
Em Assis há hoje, ao lado da Chiesa di Santa Maria Maggiore, uma casa de dois andares, chamada de "oratório Carlo Acutis", com dependências para adolescentes.
Estive várias vezes em Assis. Da última vez fui com um grupo de nossa Paróquia, para visitar São Francisco. Lembro que o guia, conversando com outros, perto de mim, falou qualquer coisa de um rapaz que morrera em odor de santidade, e que ali próximo estava enterrado. Confesso que não dei devida atenção, antes ignorei.
Agora, depois de conhecê-lo melhor, de ler sua vida, seus relatos, percebo claramente a importância da via pelos "amores brancos" e quanto é necessário não só fazer a nossa parte, não só rezar, não só se sacrificar, mas dar a própria vida pela Igreja e pelo Santo Padre.  Mais ainda: levar a sério a nossa existência sobre a terra,  pois, para aqueles que já não mais possuem 15 anos, mas o triplo, é a eternidade que,  silenciosamente se avizinha.
Que o "anjo de Milão" conceda-nos de Deus a graça do "sentire cum ecclesiam" e, por ela também morrer.
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Não ofereçamos resistência à sua primeira vinda, para não termos de recear a segunda


Então todas as árvores das florestas exultarão diante da face do Senhor porque veio, veiojulgar a terra (Sl 95,12-13). Veio primeiro e virá depois. Esta sua palavra ressoou pela primeira vez no evangelho: Vereis sem demora o Filho do homem vir sobre as nuvens (Mt26,64). Que quer dizer: Sem demora? O Senhor não virá depois, quando os povos da terra se lamentarão? Veio primeiro em seus pregadores e encheu o mundo inteiro. Não ofereçamos resistência à primeira vinda, para não termos de recear a segunda.

Que, então, devem fazer os cristãos? Usar do mundo; não servir ao mundo. Como é isto?
Possuindo, como quem não possui. O Apóstolo diz: De resto, irmãos, o tempo é breve; que os que têm esposa sejam como se não a tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; e os que usam do mundo, como se não usassem; pois passa a figura deste mundo. Eu vos quero sem inquietações (1Cor 7,29-32). Quem não tem inquietações, aguarda com
serenidade a vinda de seu Senhor. Pois, que amor ao Cristo é esse que teme sua chegada?
Irmãos, não nos envergonhamos? Amamos e temos medo de sua vinda. Será que amamos?
Ou amamos muito mais nossos pecados? Odiemos, portanto, estes mesmos pecados e amemos aquele que virá castigar os pecados. Ele virá, quer queiramos, quer não. Se ainda não veio, não quer dizer que não virá. Virá em hora que não sabes; se te encontrar preparado, não haverá importância não saberes.

E exultarão todas as árvores das florestas. Veio primeiro; depois virá para julgar a terra; encontrará exultantes aqueles que creram em sua primeira vinda, porque veio.

Julgará com equidade o orbe da terra, e os povos em sua verdade (Sl 95,13). Que significam equidade e verdade? Reunirá junto a si seus eleitos para o julgamento; aos outros separá-los-á dos primeiros; porá uns à direita, outros à esquerda. Que de mais justo, de mais verdadeiro do que não esperarem misericórdia da parte do juiz, aqueles que não quiseram usar de misericórdia antes da vinda do juiz? Quem teve misericórdia, será julgado com misericórdia. Os colocados à direita escutarão: Vinde, benditos de meu Pai, recebei o reino que vos foi preparado desde a origem do mundo (Mt 25,34). E aponta-lhes as obras de misericórdia: Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber etc. (Mt 25,34-46).

Por sua vez, que se aponta aos da esquerda? Sua falta de misericórdia. Para onde irão? Ide para o fogo eterno (Mt 25,41). Esta palavra suscita grande gemido. Que diz outro salmo?
Será eterna a lembrança do justo; não temerá escutar palavra má (Sl 111,6-7). Que quer dizer: escutar palavra má? Ide para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25,4). Quem se alegra com a palavra boa, não temerá escutar a má. É esta a equidade, a verdade.

Porque és injusto, não será justo o juiz? Ou porque és mentiroso, não será veraz a verdade?
Se queres, porém, encontrar o Misericordioso, sê tu misericordioso antes de sua chegada: perdoa, se algo foi feito contra ti, dá daquilo de que tens em abundância. Donde vem aquilo que dás, não é dele? Se desses do que é teu, seria liberalidade;quando dás do que é dele, é devolução. Que tens que não recebeste? (1Cor 4,7). São estes os sacrifícios mais aceitos por Deus: misericórdia, humildade, louvor, paz, caridade. Ofereçamo-los e com confiança esperaremos a vinda do juiz que julgará o orbe da terra com equidade, e os povos em sua verdade (Sl 95,13).

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho