sábado, 9 de fevereiro de 2013

Crer na caridade suscita caridade


Mensagem de Bento XVI para a Quaresma de 2013
Cidade do Vaticano, 01 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org). | 560 visitas
«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo4, 16)  
Queridos irmãos e irmãs!
A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.
1. A fé como resposta ao amor de Deus
Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est1). A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.
«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).
2. A caridade como vida na fé
Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).
Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf.Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).
3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialéctica». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo moralista.
A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012). De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressioo anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate8).
Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.
A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
4. Prioridade da fé, primazia da caridade
Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).
Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).
A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).
Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!
Vaticano, 15 de Outubro de 2012
BENEDICTUS PP. XVI
© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013



Seja-te a cruz um gozo, mesmo em tempo de perseguição

Toda ação de Cristo é glória da Igreja católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz.
Paulo, muito bem instruído, disse: Longe de mim gloriar-me a não ser na cruz de Cristo.

Foi uma coisa digna de admiração que ele tenha recuperado a vista àquele cego de nascença em Siloé. Mas o que é isto em vista dos cegos do mundo inteiro? Foi estupendo e acima das forças da natureza ressuscitar Lázaro após quatro dias de morto. Mas a um só foi dada essa graça; e os outros todos, em toda a terra, mortos pelo pecado?
Foi maravilhoso alimentar com cinco pães, qual fonte, a cinco mil homens. Mas e aqueles que em toda a parte sofrem a fome da ignorância? Foi magnífico libertar a mulher ligada há dezoito anos por Satanás; mas que é isto se considerarmos a todos nós, presos pelas cadeias de nossos pecados?

Pois bem; a glória da cruz encheu de luz os que estavam cegos pela ignorância, libertou os cativos do pecado, remiu o universo inteiro.

Não nos envergonhemos da cruz do Salvador. Muito pelo contrário, dela tiremos glória.
Pois a palavra da cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, para nós, no entanto, é salvação. Para aqueles que se perdem é loucura; para nós, que fomos salvos, é força de Deus. Não era um simples homem quem por nós morria; era o Filho de Deus feito homem.

Outrora o cordeiro, morto segundo a instituição mosaica, afastava para longe o devastador. Porém, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, não poderá muito mais libertar dos pecados? O sangue de um cordeiro irracional manifestava a salvação.
Sendo assim, não trará muito maior salvação o sangue do Unigênito?

O Cordeiro não entregou a vida coagido, nem foi imolado à força, mas por sua plena vontade. Ouve o que ele disse: Tenho o poder de entregar minha vida; e tenho o poder de retomá-la. Chegou, portanto, com toda a liberdade à paixão, alegre com a excelente obra, jubiloso pela coroa, felicitando-se com a salvação do homem. Não se envergonhou da cruz pois trazia a salvação para o mundo. Não era um homem qualquer aquele que padecia, era o Deus encarnado a combater pelo prêmio da obediência.

Por conseguinte, não te seja a cruz um gozo apenas em tempo de paz. Também em tempo de perseguição guarda a mesma fidelidade, não aconteça seres tu amigo de Jesus durante a paz e inimigo durante a guerra. Agora recebes a remissão dos pecados e és enriquecido com os generosos dons espirituais de teu rei. Rebentando a guerra, luta por ele valorosamente.

Jesus foi crucificado em teu favor, ele não tinha pecado. Tu, por tua vez, não te deixarás crucificar por aquele que em teu benefício foi pregado na cruz? Não estarás fazendo nenhum favor porque primeiro recebeste. Entretanto, mostras tua gratidão pagando a dívida a quem por ti foi crucificado no Gólgota.

 Das Catequeses de São Cirilo, bispo de Jerusalém



quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Um pequeno grande amigo de S. Francisco

Carlo Acutis, um novo Francisco de Fátima

"CARLO ACUTIS nasceu em Londres, aos 03 de maio de 1991, filho de Andrea e Antonia. De fato, desde pequeno o seu coração demonstrou alegria, determinação e humildade em sua caminhada rumo à “santa viagem”, vivendo na normalidade as suas atividades diárias, como a escola, os amigos, o amor pelo Criador e, sobretudo, a fé na extraordinariedade do Evangelho. Cresceu em uma família profundamente cristã; escolheu livremente dizer o “sim” com a própria vida, ao mistério que o envolvia; assim, a fé crescia com ele”.

Missas diárias: "Eucaristia é o meu caminho para o céu".

Após receber o sacramento da Primeira Comunhão, CARLO nunca faltou ao compromisso quotidiano com Cristo, presente na Eucaristia e adorado no sacrário; afirmava com entusiasmo a todos os jovens que Jesus era o seu “grande amor”.

Esta profunda intimidade com o sacrifício vivo do Corpo e Sangue de Cristo lhe fazia repetir frequentemente: “a Eucaristia é o meu caminho para o céu!”, compreendendo claramente que “o banquete eucarístico é para nós real antecipação do banquete final, pré-anunciado pelos profetas (cf. Is. 25,6-9) e descrito no Novo Testamento como as ‘núpcias do Cordeiro’ (Ap. 19, 7-9) a celebrar-se na alegria da comunhão dos santos” (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n° 31).


Especialista em informática:

Pode-se dizer que no campo da informática não havia segredos para ele, talento verdadeiramente inato, porque, apesar da sua pouca idade, foi capaz de competir com especialistas do campo, para o espanto de todos; porém, a coisa mais bela, é que não tinha somente para si esta inclinação particular, pois ficava feliz ao utilizá-la como voluntário na ajuda ao próximo.

Verdadeiro discípulo:

Um verdadeiro discípulo de Jesus, que, com a inteligência e o coração, soube revolucionar a sua vida e a vida de quem o rodeava, não perdendo jamais as ocasiões para falar de Cristo, amá-Lo, partilhar a Palavra e citar o Magistério da Igreja que conhecia, apesar da sua “pequenez”, para ganhar almas para Cristo: “embora sendo livre de todos, me fiz servo de todos para ganhar o maior número. Fiz-me fraco com os fracos para ganhar os fracos, me fiz tudo para todos, para salvar a qualquer custo cada um. Tudo eu faço pelo Evangelho, para tornar-me um participante com eles” (cf.1 Cor. 9, 19-23). “O teu dia, meu Deus, virá diante de Ti... e com meu sonho mais louco: ter o mundo entre meus braços” (J. Leclercq), e tudo isso também a custo de rejeição ou escárnio por causa da sua fé viva.


Fecundo apostolado:

CARLO era impulsionado por um único e constante desejo, o de conquistar quanto mais almas possíveis, não recorrendo a recursos mesquinhos, mas, com o testemunho constante e quotidiano da sua fé vivida sem ostentação, simplesmente com coerência e desarmamento.

Por isso que muitos daqueles que tiveram a oportunidade de conhecê-lo pediram o batismo na Igreja Católica. Havia nele a viva convicção que “todos nascem como originais, mas muitos morrem como cópias”.

 Isso o levou a viver com originalidade os seus dias, não desperdiçando, nunca, a cada instante, os dons de Deus, porque a graça eleva a natureza, não a destrói; logo, tudo o que era natural em CARLO, era posto a serviço e por isso a graça o elevou: é tudo luz!

Fuga do pecado para poder subir ao céu

A clareza da fé em CARLO o levou a afirmar: “um balão, para subir bem alto, necessita despojar-se de tudo aquilo que pesa; pois assim faz a alma, para elevar-se ao céu, necessitando tirar pequenos pesos que são os pecados veniais. Se por acaso existe um pecado mortal, a alma cai sobre a terra e a confissão será como fogo,   o mesmo fogo que faz retornar ao céu o balão. É preciso confessar-se frequentemente porque a alma é muito complexa”.

Todo de Maria: " a unica mulher da minha vida"


Faz-se necessário indicar outro aspecto fundamental do itinerário terreno e espiritual de CARLO ACUTIS: O seu amor pela Virgem Maria que ele mesmo definia como “a única mulher da minha vida”. Um amor genuíno, vivo, concreto na fidelidade quotidiana ao recitar o santo Rosário, definido por ele como o “compromisso mais cerimonioso da jornada”, na sua devoção aos primeiros sábados do mês.
A Ela consagrou várias vezes toda a sua vida, principalmente nas visitas que fez aos Santuários de Lourdes e de Fátima.

Suas penitências pelas almas do purgatório

A história da “visão do inferno”, como descreveu irmã Lúcia de Fátima, o perturbou sobremaneira; por causa disso, CARLO decidiu trabalhar pela salvação das almas. Contribuiu também, para tal efeito, a leitura do “Tratado do Purgatório”,  de Santa Catarina Fieschi, de Gênova (1447-1510), onde são descritas as penas das almas do Purgatório, em sufrágio das quais oferecia orações, penitências e comunhões.

                                  Para aqueles que não possuíssem o dom da fé e, através dela, a certeza da verdade que emana de Deus, CARLO se esforçava para que muitos pudessem levantar os olhos e ver a fé como um farol de luz que conduz à salvação.
                                      Cuidava de sua pureza e defendia a sacralidade da família:
Cada momento da sua vida, na família, na escola, nas relações com os outros, se tornava ocasião de testemunho natural da sua fé.
Preocupava-se muito com sua pureza e por isso confiava-se à Virgem Maria e às orações das monjas enclausuradas que frequenta.
Nos debates aos quais comparecia, CARLO era um defensor apaixonado da sacralidade da família contra o divórcio, bem como da vida contra o aborto e a eutanásia.

Exemplo aos jovens:

Aos jovens, CARLO se apresentava em sua totalidade: um adolescente do nosso tempo; testemunha que entregar-se a Cristo é viver uma vida “maior”, uma vida que não fecha as portas da liberdade e da alegria, porque “Ele não nos tira nada, mas doa tudo. Quem se doa à Ele, recebe o cêntuplo”(Bento XVI).

O perfil de CARLO era semelhante ao de Maria Magdalena. A sua juventude era “óleo perfumado de nardo puro, preciosíssimo”, que queria espalhar sobre os pés de Jesus (cf. Jo 12, 3); os seus dias, embora breves, foram como uma sequência até o calvário (cf. Jo 19, 25), sem descontos ou meias medidas.

Sua morte

No início de outubro de 2006, foi atingido por uma gravíssima leucemia, incurável. Também neste momento o amor vence o medo e, no hospital, disse: “ofereço todo o sofrimento, de que deverei padecer, ao Senhor, pelo Papa e pela Igreja, para não passar pelo purgatório e ir direto ao Paraíso”.

                                 Recebe a Unção dos Enfermos e a “medicina” da Eucaristia, a sua “rodovia para o céu”. O médico pessoal fica maravilhado e edificado com seu modo de viver e suportar as dores atrozes: sorri a todos e mantém a sua gentileza, unida à uma grande paciência
Quando o doutor que o acompanhava perguntou se sofria muito, CARLO respondeu com coragem: “existem pessoas que sofrem muito mais do que eu!”
O teólogo Karl Rahner afirma que: “para cada um, o tempo de vida que lhe é concedido, é o breve instante no qual se torna aquilo que deve ser”. Aqui se encontra todo o mistério deste jovem fiel, da Igreja Diocesana de Milão, que se reflete nos seus olhos carregados de sabedoria e de luz, quase antecipação dos eleitos na Jerusalém Celeste, Páscoa sem fim.
Às 6:45 horas de 12 de outubro de 2006, CARLO ACUTIS retorna à Casa do Pai “para sempre”, na ponta dos pés, sem rumor algum, como a lógica evangélica da semente, para cantar na eternidade o canto dos pequenos benditos de Deus e fazer de si o “hortus conclusus”[2], o Jardim do Éden onde o Senhor possa livremente “passear sobre a brisa do dia” (cf. Gen. 3, 8), o seu dia."
Carlo Acutis tinha particular admiração pela vida de S. Francisco e de Santa Clara, por isso gostava de ir muito a Assis, onde sua família tem casas. Em Milão, era conhecido por ajudar os pobres, os excluídos, os velhos e, sobretudo os migrantes que sofriam, em sua terra, tantos preconceitos. Em Assis saía às ruas, à noite, para levar comida aos pobres e sempre lhes deixava, no bolso, algum dinheiro.
Após sua morte, tendo seus órgãos retirados para doação, foi enterrado no cemitério de Assis, segundo o seu desejo.
Em Assis há hoje, ao lado da Chiesa di Santa Maria Maggiore, uma casa de dois andares, chamada de "oratório Carlo Acutis", com dependências para adolescentes.
Estive várias vezes em Assis. Da última vez fui com um grupo de nossa Paróquia, para visitar São Francisco. Lembro que o guia, conversando com outros, perto de mim, falou qualquer coisa de um rapaz que morrera em odor de santidade, e que ali próximo estava enterrado. Confesso que não dei devida atenção, antes ignorei.
Agora, depois de conhecê-lo melhor, de ler sua vida, seus relatos, percebo claramente a importância da via pelos "amores brancos" e quanto é necessário não só fazer a nossa parte, não só rezar, não só se sacrificar, mas dar a própria vida pela Igreja e pelo Santo Padre.  Mais ainda: levar a sério a nossa existência sobre a terra,  pois, para aqueles que já não mais possuem 15 anos, mas o triplo, é a eternidade que,  silenciosamente se avizinha.
Que o "anjo de Milão" conceda-nos de Deus a graça do "sentire cum ecclesiam" e, por ela também morrer.
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