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domingo, 10 de novembro de 2013
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Crer na caridade suscita caridade
Mensagem de Bento XVI para a Quaresma
de 2013
Cidade do Vaticano,
01 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org). | 560 visitas
«Nós conhecemos o
amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo4, 16)
Queridos irmãos e irmãs!
A celebração da
Quaresma, no contexto do Ano
da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação
entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor,
que é fruto da acção do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a
Deus e aos outros.
1. A fé como resposta ao amor de Deus
Na minha
primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação
entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação
fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois
cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava
que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia,
mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo
horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a
amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora
o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que
Deus vem ao nosso encontro» (Deus
caritas est, 1). A fé constitui
aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do
amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente
em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também
o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim
da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no acto
globalizante do amor. Mas isto é um processo que permanece continuamente a
caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os
«agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em
Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que,
para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto
de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo
amor» (ibid., 31). O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e,
movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo
(cf. ibid., 33). Esta
atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo
servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se
oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.
«A fé mostra-nos o
Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa
de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé, que toma consciência do
amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua
vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que
ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir»
(ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender
como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor
fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).
2. A caridade como vida na fé
Toda a vida cristã
consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé
como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina
inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma
luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda
a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor
gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos
de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que
vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).
Quando damos espaço
ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade.
Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar
com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé
que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem
habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
A fé é conhecer a
verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é
«caminhar» na verdade (cf.Ef 4, 15). Pela fé,
entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta
amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé
faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a
felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé,
somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo
concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos
confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).
3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade
À luz de quanto foi
dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e
caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria
errado ver entre elas um contraste ou uma «dialéctica». Na realidade, se, por
um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter
prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as
obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro
é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua
operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual
sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o activismo moralista.
A existência cristã
consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a
descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos
e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos
Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente
ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e acção,
de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta
(cf. Lc 10, 38-42). A
prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica
deve radicar-se na fé (cf. Catequese
na Audiência geral de 25
de Abril de 2012). De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à
solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que
a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da
Palavra». Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o
próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da
Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização
é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo de
Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo
é o primeiro e principal factor de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade
primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa
existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento
integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8).
Essencialmente,
tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a
conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos
aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer
«enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com
alegria aos outros.
A propósito da
relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo:
«É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom
de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos
por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas acções que
Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10). Daqui se deduz que
toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido
na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e
responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da
caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que
vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em
abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes
implicam-se mutuamente. A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente
para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta
mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e,
ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo,
nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.
4. Prioridade da fé, primazia da caridade
Como todo o dom de
Deus, a fé e a caridade remetem para a acção do mesmo e único Espírito Santo
(cf. 1 Cor 13), aquele
Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).
Enquanto dom e
resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e
crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia
divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção
de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a
morte. A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na
expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua
plenitude. Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado
em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem
reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito
Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação
a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).
A relação entre
estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais
da Igreja: o Baptismo e a Eucaristia. O Baptismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que
constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a
caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do
acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à
verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para
sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).
Caríssimos irmãos e
irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da
Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a
história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em
Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão
e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus,
enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!
Vaticano, 15 de Outubro de 2012
BENEDICTUS PP. XVI
© Copyright 2012 -
Libreria Editrice Vaticana
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Seja-te a cruz um gozo, mesmo em tempo de
perseguição
Toda ação de Cristo é glória da Igreja
católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz.
Paulo, muito bem instruído, disse:
Longe de mim gloriar-me a não ser na cruz de Cristo.
Foi uma coisa digna de admiração que
ele tenha recuperado a vista àquele cego de nascença
em Siloé. Mas o que é isto em vista dos cegos do mundo inteiro? Foi estupendo e acima das forças da natureza
ressuscitar Lázaro após quatro dias de morto. Mas
a um só foi dada essa graça; e os outros todos, em toda a terra, mortos pelo
pecado?
Foi maravilhoso alimentar com cinco
pães, qual fonte, a cinco mil homens. Mas e aqueles
que em toda a parte sofrem a fome da ignorância? Foi magnífico libertar a mulher ligada há dezoito anos por Satanás; mas que
é isto se considerarmos a todos nós, presos
pelas cadeias de nossos pecados?
Pois bem; a glória da cruz encheu de
luz os que estavam cegos pela ignorância, libertou os cativos do pecado, remiu o universo inteiro.
Não nos envergonhemos da cruz do
Salvador. Muito pelo contrário, dela tiremos glória.
Pois a palavra da cruz é escândalo para
os judeus e loucura para os gentios, para nós, no entanto,
é salvação. Para aqueles que se perdem é loucura; para nós, que fomos salvos, é força de Deus. Não era um simples homem quem por
nós morria; era o Filho de Deus feito homem.
Outrora o cordeiro, morto segundo a
instituição mosaica, afastava para longe o devastador.
Porém, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, não poderá muito mais libertar dos pecados? O sangue de um cordeiro
irracional manifestava a salvação.
Sendo assim, não trará muito maior
salvação o sangue do Unigênito?
O Cordeiro não entregou a vida coagido,
nem foi imolado à força, mas por sua plena vontade.
Ouve o que ele disse: Tenho o poder de entregar minha vida; e tenho o poder de retomá-la. Chegou, portanto, com toda a
liberdade à paixão, alegre com a excelente obra,
jubiloso pela coroa, felicitando-se com a salvação do homem. Não se envergonhou da cruz pois trazia a salvação para o mundo. Não
era um homem qualquer aquele que padecia,
era o Deus encarnado a combater pelo prêmio da obediência.
Por conseguinte, não te seja a cruz um
gozo apenas em tempo de paz. Também em tempo
de perseguição guarda a mesma fidelidade, não aconteça seres tu amigo de Jesus durante a paz e inimigo durante a guerra. Agora
recebes a remissão dos pecados e és enriquecido
com os generosos dons espirituais de teu rei. Rebentando a guerra, luta por ele valorosamente.
Jesus foi crucificado em teu favor, ele
não tinha pecado. Tu, por tua vez, não te deixarás crucificar por aquele que em teu benefício foi
pregado na cruz? Não estarás fazendo nenhum
favor porque primeiro recebeste. Entretanto, mostras tua gratidão pagando a dívida a quem por ti foi crucificado no Gólgota.
Das Catequeses de São Cirilo,
bispo de Jerusalém
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