quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Exaltemos a Santa Cruz


Na próxima sexta-feira, dia 14, a Igreja celebra a festa da exaltação da Santa Cruz. Parece estranho louvar-se a  Cruz, quando todos nós nos sentimos chamados à vida e a cruz instrumento de martírio. Qual o sentido da cruz? Santo Agostinho, no seu tratado sobre os salmos, exclama: “Vede, ó cristãos, a glória da cruz. Já fulgura na fronte dos reis aquela que os inimigos insultaram. Já as maravilhas que realiza provam a força divina que nela reside. Venceu a terra inteira sem espada, venceu-a o lenho da cruz”.

O sangue redentor de Cristo santificou aquela madeira sagrada e por ela venceu a morte e nos conduz a todos à ressurreição cujas portas Ele nos abriu, como pioneiro(Cf. 1Cor.15, 20-23,) rasgando o seio da terra e subindo glorioso na sua natureza humana para junto do Pai.

Enquanto homens, descendentes de Adão, todos nós sofremos a dor e a morte. A isso não podemos fugir. E nossa libertação passa pelo seguimento de Jesus. A opção pelo seu caminho exige que assumamos a nossa condição e a superemos pela renuncia e sacrifício para caminharmos em direção à Luz.  “
Aquele que não carrega a sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Cf. Lc 14, 27)

Por que então temer pegar a cruz, pela qual se vai ao Reino, pergunta a Imitação de Cristo. Na Cruz está a salvação, na cruz está a vida, a força e a perfeição, enquanto que é por ela que, pela graça, podemos superar a condição de pecado em que nascemos até nos conformarmos inteiramente com Cristo.

Estranha condição a nossa. Vivemos presos a este mundo que arrasta a nossa vida para a matéria que desaparece com o tempo. Não nos apercebemos que podemos ir para onde quisermos, procurar qualquer caminho e não nos libertaremos das dores da morte. As alegrias são fugazes e os prazeres tem o seu fim tão rápido quanto o pulsar dos relógios.

São amarras que prendem nossa vida de espírito. Temos ânsia de Deus, da felicidade suprema, mas sentimos em nossos membros o peso que nos arrasta para as concupiscências, de que fala São Paulo: “
Quem me libertará deste corpo do pecado?” (Cf. Rm. 7,24). Quem cortará o laço opressor, que nos constrange e a que nos apegamos mais que ao seio materno antes de virmos a este mundo?

Somente a cruz redentora de Cristo nos libertará, se a abraçarmos com amor e generosidade. Nela podemos nos gloriar, porque nela a salvação e a vida e a ressurreição.(Cf. Gal.6,14).

A vida terrestre e sua glória foge-nos sempre até desaparecer nas vascas da morte. Mas a vida do espírito, que é informada pela cruz, esta, iniciada, jamais acabará: “
Os desejos da carne levam à morte, ao passo que os desejos do Espírito levam à vida e à paz”(Cf. Rom 8,6).

No Evangelho de São João, no diálogo com Nicodemos Jesus nos fala: “
Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado a fim de que todo aquele que crê tenha por meio dele a vida eterna”(Cf. Jo. 3.14-15).

Toda a redenção do universo quis o Pai que passasse pela cruz. É por ela que o mundo será salvo. De instrumento de martírio e de morte para os mais rejeitados pelo mundo, quis Deus torná-la meio de salvação pela morte de seu Filho. Veneremos e exaltemos com toda a Igreja este sinal glorioso que aparecerá nos céus entre as nuvens quando o Filho virá julgar os vivos e os mortos para oferecer ao Pai todo o universo nele, em Cristo, restaurado.

Por: DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO 
ARCEBISPO EMÉRITO DE JUIZ DE FORA, MG.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Em tua imensa misericórdia, toda a minha esperança!


O Ano da Fé
O tempo passa, estamos praticamente no meio do ano, nos aproximamos do Ano da Fé, instituído pelo santo padre e que terá início em outubro.
No intuito de já nos prepararmos para esse grande evento tão urgente e necessário diante da realidade tão dura do secularismo, até mesmo do paganismo instalado em nossa sociedade, gostaria de trazer para nossa meditação e alimento espiritual um dos mais belos textos de S. Agostinho, um dos maiores convertidos da história do cristianismo.


Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 10,26.37–29,40; CCL 27,174-176)
(Séc.V)

Em tua imensa misericórdia, toda a minha esperança
Onde te encontrei, Senhor, para te conhecer? Não estavas certamente em minha
memória antes que eu te conhecesse.

Onde então te encontrei para te conhecer, a não ser em ti, acima de mim? Não é propriamente um lugar. Afastamo-nos, aproximamo-nos e não é um lugar. Em toda parte, ó Verdade, presides a todos que vêm com diferentes consultas.

Com clareza respondes, porém, nem todos ouvem com clareza. Todos perguntam o que querem e nem sempre ouvem o que querem. Ótimo servo teu é quem não espera ouvir de ti o que desejaria, mas antes quer aquilo que de ti ouve.

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro e eu fora te procurava. Precipitava-me eu disforme, sobre as coisas formosas que fizeste. Estavas comigo, contigo eu não estava. As criaturas retinham-me longe de ti, aquelas que não existiriam se não estivessem em ti. Chamaste e gritaste e rompeste a minha surdez.
Cintilaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume, aspirei-o e anseio por ti. Provei, tenho fome e tenho sede. Tocaste-me e abrasei-me no desejo de tua paz.

Quando me uno a ti com todo o meu ser, não há em mim dor nem fadiga. Viva será minha vida, toda repleta de ti. Agora ergues o que de ti está repleto. Como ainda não estou pleno de ti, sou um peso para mim. Lutam minhas lamentáveis alegrias com as tristezas deleitáveis. De que lado estará a vitória, não sei.

Ai de mim, Senhor! tem piedade de mim. Lutam minhas más tristezas com as boas alegrias e não sei quem vencerá. Ai de mim, Senhor! Tem piedade de mim! Ai de mim!
Bem vês que não escondo minhas chagas. És o médico; eu, o doente. És misericordioso; eu, o miserável.

Não é verdade que a vida humana na terra é uma tentação? Quem deseja pesares e dificuldades? Ordenas tolerá-los, não amá-los. Ninguém ama aquilo que tolera, mesmo se gosta de tolerar. Embora alegre-se por tolerar, prefere não ter que tolerá-lo. Na adversidade desejo a felicidade; na felicidade temo a adversidade. Que meio termo haverá onde a vida humana não seja uma tentação? Ai da felicidade do mundo, uma e duas vezes, pelo temor da adversidade e pela caducidade da alegria! Ai das adversidades do mundo, pelo desejo da felicidade! A adversidade é dura e faz naufragar a tolerância.
Não é verdade que é uma tentação a vida humana sobre a terra? Em tua imensa misericórdia ponho toda a minha esperança.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Quaresma

Iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, um dos tempos litúrgicos mais fortes e formativos para nós cristãos, trata-se da Quaresma tempo privilegiado de penitência. A tradição da Igreja indica o jejum, a oração e a esmola (testemunho da caridade fraterna e prática de justiça que agrada a Deus - Catecismo 2462), como remédios que nos tiram do egoísmo, nos estimulam à conversão e nos introduzem numa via de união com Deus, enquanto vão nos preparando para o grande evento pascal da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Uma forma de viver a quaresma em sua ótica horizontal, ou seja, no relacionamento em sociedade seria, por exemplo, através do jejum e esmola renunciando a alguma refeição ou algo supérfluo, oferecendo o fruto do que foi “economizado” a uma pessoa carente ou à coleta que se faz em toda comunidade no Domingo de Ramos destinada aos projetos sociais da Igreja. Participe também da comunidade nos momentos em que ela ora e medita o tema proposto pela Campanha da Fraternidade.

Mas há também o relacionamento com Deus, a dimensão vertical, que não pode ser negligenciado. Pela meditação da Paixão do Senhor vamo-nos introduzindo no mistério celebrado, assim chegaremos à Semana Santa com profundo ardor, desejosos de acompanhar Jesus em cada passo de sua dolorosa Paixão salvadora. Para isso muito nos ajudam as orações da Via-Sacra, a leitura dos Evangelhos da Paixão ou até mesmo a simples contemplação de um Crucifixo.

“Há diversos carismas“ diz S. Paulo, que cada um descubra o seu e o coloque a serviço da comunidade vivendo com coerência sua vida cristã, renunciando aos ídolos modernos, colocando os valores do Evangelho em primeiro lugar, amando a todos a exemplo de Jesus, isso já será um grande profetismo e o fruto uma profunda transformação no ambiente e nas pessoas que convivem conosco. 


Confiemos a Maria Santíssima nossos propósitos de conversão para colaborarmos com o Reino de Deus e ela que acreditou na missão salvadora de Jesus e o acompanhou até o fim vai também nos guiar por caminhos seguros à realização da Vontade de Deus em nossas vidas e de todos os que nos cercam.