quinta-feira, 31 de maio de 2012

Em tua imensa misericórdia, toda a minha esperança!


O Ano da Fé
O tempo passa, estamos praticamente no meio do ano, nos aproximamos do Ano da Fé, instituído pelo santo padre e que terá início em outubro.
No intuito de já nos prepararmos para esse grande evento tão urgente e necessário diante da realidade tão dura do secularismo, até mesmo do paganismo instalado em nossa sociedade, gostaria de trazer para nossa meditação e alimento espiritual um dos mais belos textos de S. Agostinho, um dos maiores convertidos da história do cristianismo.


Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 10,26.37–29,40; CCL 27,174-176)
(Séc.V)

Em tua imensa misericórdia, toda a minha esperança
Onde te encontrei, Senhor, para te conhecer? Não estavas certamente em minha
memória antes que eu te conhecesse.

Onde então te encontrei para te conhecer, a não ser em ti, acima de mim? Não é propriamente um lugar. Afastamo-nos, aproximamo-nos e não é um lugar. Em toda parte, ó Verdade, presides a todos que vêm com diferentes consultas.

Com clareza respondes, porém, nem todos ouvem com clareza. Todos perguntam o que querem e nem sempre ouvem o que querem. Ótimo servo teu é quem não espera ouvir de ti o que desejaria, mas antes quer aquilo que de ti ouve.

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro e eu fora te procurava. Precipitava-me eu disforme, sobre as coisas formosas que fizeste. Estavas comigo, contigo eu não estava. As criaturas retinham-me longe de ti, aquelas que não existiriam se não estivessem em ti. Chamaste e gritaste e rompeste a minha surdez.
Cintilaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume, aspirei-o e anseio por ti. Provei, tenho fome e tenho sede. Tocaste-me e abrasei-me no desejo de tua paz.

Quando me uno a ti com todo o meu ser, não há em mim dor nem fadiga. Viva será minha vida, toda repleta de ti. Agora ergues o que de ti está repleto. Como ainda não estou pleno de ti, sou um peso para mim. Lutam minhas lamentáveis alegrias com as tristezas deleitáveis. De que lado estará a vitória, não sei.

Ai de mim, Senhor! tem piedade de mim. Lutam minhas más tristezas com as boas alegrias e não sei quem vencerá. Ai de mim, Senhor! Tem piedade de mim! Ai de mim!
Bem vês que não escondo minhas chagas. És o médico; eu, o doente. És misericordioso; eu, o miserável.

Não é verdade que a vida humana na terra é uma tentação? Quem deseja pesares e dificuldades? Ordenas tolerá-los, não amá-los. Ninguém ama aquilo que tolera, mesmo se gosta de tolerar. Embora alegre-se por tolerar, prefere não ter que tolerá-lo. Na adversidade desejo a felicidade; na felicidade temo a adversidade. Que meio termo haverá onde a vida humana não seja uma tentação? Ai da felicidade do mundo, uma e duas vezes, pelo temor da adversidade e pela caducidade da alegria! Ai das adversidades do mundo, pelo desejo da felicidade! A adversidade é dura e faz naufragar a tolerância.
Não é verdade que é uma tentação a vida humana sobre a terra? Em tua imensa misericórdia ponho toda a minha esperança.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Quaresma

Iniciamos na Quarta-feira de Cinzas, um dos tempos litúrgicos mais fortes e formativos para nós cristãos, trata-se da Quaresma tempo privilegiado de penitência. A tradição da Igreja indica o jejum, a oração e a esmola (testemunho da caridade fraterna e prática de justiça que agrada a Deus - Catecismo 2462), como remédios que nos tiram do egoísmo, nos estimulam à conversão e nos introduzem numa via de união com Deus, enquanto vão nos preparando para o grande evento pascal da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Uma forma de viver a quaresma em sua ótica horizontal, ou seja, no relacionamento em sociedade seria, por exemplo, através do jejum e esmola renunciando a alguma refeição ou algo supérfluo, oferecendo o fruto do que foi “economizado” a uma pessoa carente ou à coleta que se faz em toda comunidade no Domingo de Ramos destinada aos projetos sociais da Igreja. Participe também da comunidade nos momentos em que ela ora e medita o tema proposto pela Campanha da Fraternidade.

Mas há também o relacionamento com Deus, a dimensão vertical, que não pode ser negligenciado. Pela meditação da Paixão do Senhor vamo-nos introduzindo no mistério celebrado, assim chegaremos à Semana Santa com profundo ardor, desejosos de acompanhar Jesus em cada passo de sua dolorosa Paixão salvadora. Para isso muito nos ajudam as orações da Via-Sacra, a leitura dos Evangelhos da Paixão ou até mesmo a simples contemplação de um Crucifixo.

“Há diversos carismas“ diz S. Paulo, que cada um descubra o seu e o coloque a serviço da comunidade vivendo com coerência sua vida cristã, renunciando aos ídolos modernos, colocando os valores do Evangelho em primeiro lugar, amando a todos a exemplo de Jesus, isso já será um grande profetismo e o fruto uma profunda transformação no ambiente e nas pessoas que convivem conosco. 


Confiemos a Maria Santíssima nossos propósitos de conversão para colaborarmos com o Reino de Deus e ela que acreditou na missão salvadora de Jesus e o acompanhou até o fim vai também nos guiar por caminhos seguros à realização da Vontade de Deus em nossas vidas e de todos os que nos cercam.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Começando o ano com Maria Santíssima



Começamos um novo ano e a Sagrada Liturgia da Igreja da qual emanam todas as graças aos seus membros nos convida à santificação - a ação litúrgica é que permite o mais alto grau de encontro entre a vida do fiel e a plenitude do mistério - e orienta no primeiro dia do ano na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus a reconhecermos a maternidade Divina da Virgem Maria e a ela nos confiarmos para que todo este ano seja repleto de fé, esperança e experiências com o Santo Amor de Deus.

Estamos iniciando o ano ainda em clima de Natal e contemplamos “a Virgem, José e o Menino deitado á manjedoura... Maria guardava tudo e meditava em seu coração “(cf. Lc 2, 16.19). Neste clima de família, Nossa Senhora, aquela que participou de forma única do Plano de Redenção do Pai, começado por obra do Espírito Santo com a Encarnação do Filho em seu ventre imaculado, nos ensina como deve ser o nosso testemunho de vivência cristã e de filiação, ou seja, ter o coração voltado para as coisas de Deus na meditação e contemplação, isso é possível mesmo em meio as provações do cotidiano, desde que a nossa vida seja nutrida pela Palavra de Deus e pela vivência dos Sacramentos. Convidamos os Servos de Jesus Crucificado e seus amigos a fazer a experiência neste ano que inicia de uma freqüente escuta da Palavra de Deus, por exemplo: antes de sair de casa para suas atividades uma breve leitura orante da Sagrada Escritura, isso nos ajudará a iluminar nossos atos e decisões, tornando-nos, a exemplo de Maria Santíssima, portadores da Palavra e instrumentos do Amor de Deus.

Sendo assim poderemos também viver concretamente o outro grande marco do mês de janeiro ainda dentro do clima de Natal: no dia 03 a Solenidade da Epifania do Senhor que dá um realce particular a esse revelar-se de Deus na história. A eternidade entrou no tempo através do mistério da Encarnação, por isso em Jesus Cristo, Verbo Encarnado, o tempo passa a ser uma dimensão de Deus, de modo que todos os dias e todos os momentos são abarcados pela sua Encarnação e Ressurreição e se encontram na “plenitude do tempo”. (“Quando, porém chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial.“ Gl 4,4-5).

Encerrando o tempo de Natal, no próximo dia 10 teremos a festa do Batismo do Senhor, no qual Ele inaugura sua vida pública anunciando o Reino de Deus, ”a fim de abrir os olhos dos cegos, a fim de soltar do cárcere os presos, e da prisão os que habitam nas trevas” (I s 42, 7). 

A vivência concreta do cristão proporciona a cada dia certa divinização iniciada pela imersão do nosso Batismo e que se prolonga no desenrolar cronológico da vida, realizando-se progressivamente à medida que a experiência do mistério se torna expressão da vida, assim o nosso testemunho será como o dos Reis Magos que, ”ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra.” (Mt 2,11).

Ó boa mãe, obrigado por nos tomar pela mão já no inicio da caminhada neste ano e nos mostrar os caminhos da salvação: o seu Filho e nosso Deus, que se revelou na história e continua se revelando na sua Palavra.

Rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.